quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Ilídio Sardoeira "A minha Aldeia"

A minha aldeia fica entre montanhas
De gigantesco porte desolado
Que ciclópicas mãos,
Em primitivas eras, modelaram
Com fraguedos nus e terra negra
Minha aldeia natal, sei-te de cor!
És cheia de lugares onde prendi,
Em doidas correrias,
As vestes que cobriram o meu ser...

As Carvalhas, desertas, onde moro,
De que só resta esfalcelado tronco
Com dois velhos ao pé,
De companheiros
Espaneja-se à luz
E desce abruptamente o povoado,
De Negruscas casas perfiladas,
Até cair nos braços,
Da sempre moça e virgem Romeirinha.

Mas há lugares que foram baptizados
Por lírico troveiro...
Cheiram a erva fresca ou loiro feno,
Ou a cantantes veios, ressaltando
Do rochoso musgoso:
O Trogão, as Relvas, as Presinhas,
O Crecial, as Fragas, as Ribeiras...
Outros nasceram só por ironia!

O Coto (vede lá) é um altar,
A dominar um monte de olivedos...
O Pombal, de negro e de sombrio,
Só para ninho de aves agoirentas!

Minha aldeia Natal,
Fustigada da chuva e ventania!
És lágrima indecisa,
Imensa gota de água a tremular
Nos olhos pedregosos do Marão!

Ma, quando volta, enfim, a Primavera,
Paganizando tudo,
És riso aberto, em flor, ao sol que escorre
Pelas vertentes ermas

Ó minha aldeia, humílimo recanto
Onde o menino antigo de que resta
Esta poeira velha e dispersada
Que já foi galho em flor.


IlidioSardoeira
In A minha Aldeia (excertos)
Amarante 1940

Homenagear Ilídio Sardoeira


Ilidio Sardoeira uma das figuras mais ilustres que nasceu nesta aldeia, senão a mais ilustre.
Ilidio Sardoeira (Ilidio Ribeiro Covêlo Sardoeira), nasceu no lugar das Carvalhas, freguesia de Canadelo, concelho de Amarante, no dia 12 de Novembro de 1915, filho de Avelino Alves Sardoeira e de Lizarda Pinto de Miranda. Faleceu na sua residência, Rua Rocha Leão, n.º 240, freguesia de Vila Nova de Gaia (St.ª Marinha),concelho de Vila Nova de Gaia, no dia 28 de Novembro de 1987. Era casado com Maria Isabel Marques de Andrade Sardoeira.

Ele que tanto amou e estudou o que de melhor encontrou na sua terra e o seu povo, durante a sua vida de Cidadão. Foi professor de Biologia, contista, ensaísta, conferencista, escritor, poeta, pedagogo, professor metodólogo e inspecto - orientador (pós 25 de Abril).

Colocou sempre a frente de si próprio com a sua verbe e que sempre iconizou nas suas intervenções públicas, como por exemplo como conferencista, numa exímia arte de pedagogia, em tornar fácil o se apresentava difícil, em transmitir outras visões "divergentes" e serenamente incómodas.

De entre os escritos que publicou, referem-se, de forma aleatória: "A minha Aldeia", "Pascoaes - um Poeta de sempre", "Provas", "História do Sangue"", "Nota à margem de dois livros" e "Influências do Principio da Incerteza no Pensamento de Pascoaes".»

Em Canadelo há uma pequena placa onde se pode ler, "aqui nasceu Ilidio Sardoeira", mas penso que está mais que na hora tanto por parte das autoridades Concelhias, como da freguesia para uma homenagem mais condizente com figura tão importante. Ele que nunca esqueceu as suas origens, nem os que lhe eram próximos.

Ainda acerca do calcário nas minas de Sobrido

As pedreiras de Sobrido foram durante muito tempo um dos principais meios de sobrevivência dos habitantes desta aldeia.

Fala-se que esta pequena aldeia, começou com nove casais, desde logo começaram a trabalhar a terra e que usavam os fornos da cal para fazer o calcário para angariarem algum dinheiro. Depois de cozido vinte e quatro horas, era transportado para a Vila de Amarante, nos costados das jumentas e burras e ali era comercializado. Cada um dos nove casais tinha o seu forno, a medida que a família aumentava, participavam nesse trabalho.

Há quem diga que alinha férrea de Amarante até Cabeceiras de Bastos (Linha do Tâmega) foi construída com calcário das minas de Sobrido. Hoje em dia usa-se o cimento, na altura usava-se o calcário.

Mais tarde, as minas foram alugadas a particulares e aí foram utilizadas para extracção de ferro (cassiterite), de calcário cozido e calcário moído, este último muito utilizado para a correcção dos terrenos agrícolas.

Fornos de Calcário





Nos finais do século XIX, a freguesia foi afamada pela preparação do cal, cujos ruinas dos fornos podem ainda ser vistos no lugar de Sobrido.

A este este prepósito, referia José Augusto Vieira no "Minho Pitoresco": "Há de notável em Canadelo a industria de preparação de cal, sendo esta de óptima qualidade, extraida de uma pequena mancha de xisto do Marão. Esta indústria assegura um largo futuro à freguesia depois da conclusão da estrada municipal"

É claro que tais palavras foram ditas em meados do século passado, os tempos mudaram e hoje Canadelo tem uma boa ligação até a Cidade de Amarante. Há a realçar o passado da industria nesta terra, tanto das minas de estanho, de Ordes e Vieiros como pela indústria da cal.

Quem pretender visitar Canadelo poderá visitar as pedreiras de calcário, os fornos onde a cal era cozida em Sobrido, (cerca de 3 Km do centro da freguesia).