quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Ilídio Sardoeira "A minha Aldeia"

A minha aldeia fica entre montanhas
De gigantesco porte desolado
Que ciclópicas mãos,
Em primitivas eras, modelaram
Com fraguedos nus e terra negra
Minha aldeia natal, sei-te de cor!
És cheia de lugares onde prendi,
Em doidas correrias,
As vestes que cobriram o meu ser...

As Carvalhas, desertas, onde moro,
De que só resta esfalcelado tronco
Com dois velhos ao pé,
De companheiros
Espaneja-se à luz
E desce abruptamente o povoado,
De Negruscas casas perfiladas,
Até cair nos braços,
Da sempre moça e virgem Romeirinha.

Mas há lugares que foram baptizados
Por lírico troveiro...
Cheiram a erva fresca ou loiro feno,
Ou a cantantes veios, ressaltando
Do rochoso musgoso:
O Trogão, as Relvas, as Presinhas,
O Crecial, as Fragas, as Ribeiras...
Outros nasceram só por ironia!

O Coto (vede lá) é um altar,
A dominar um monte de olivedos...
O Pombal, de negro e de sombrio,
Só para ninho de aves agoirentas!

Minha aldeia Natal,
Fustigada da chuva e ventania!
És lágrima indecisa,
Imensa gota de água a tremular
Nos olhos pedregosos do Marão!

Ma, quando volta, enfim, a Primavera,
Paganizando tudo,
És riso aberto, em flor, ao sol que escorre
Pelas vertentes ermas

Ó minha aldeia, humílimo recanto
Onde o menino antigo de que resta
Esta poeira velha e dispersada
Que já foi galho em flor.


IlidioSardoeira
In A minha Aldeia (excertos)
Amarante 1940

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